Além disso, coloca a linguagem e a palavra em destaque. A palavra que ganha vida nas mãos do poeta e que serve tão bem para descrever o nada. As palavras que não deixam o poeta sossegado e sempre buscam revelar-se através de sua poesia. Para o poeta, a palavra que serve para expressar a essência desse Eu lírico não é "a palavra acostumada" e sim a palavra que desarruma a linguagem e faz com que o poeta expresse de melhor forma os sentimentos, o que é verdadeiro, os seus desejos mais escondidos.
O artista não consegue libertar-se da palavra, ela o descobre e quase o escraviza. Mas essa escravidão não faz com que o Eu lírico sucumba ao desejo da linguagem, pelo contrário, ele usa a linguagem e a transfigura para apresentar-se através da poesia.
O desejo de Flaubert de escrever sem um tema proposto, escrever sobre o nada é colocado no início do livro no "Pretexto", esse título pode ser pensado também como sendo um pretexto de Manuel de Barros que também optou por esse modelo anormal de expressão.
A constante presença do nada impulsiona o poeta para a busca do auto-conhecimento e o prepara para revelar o mundo através das palavras e, então, ao falar sobre o nada acaba falando também do Eu poético. O artista quer ser vadio, uma vadiagem permeada pela liberdade, uma liberdade para fazer nada, uma liberdade que permita fugir da obrigatoriedade de dizer, de fazer algo diferente, único, uma liberdade que permita criar de forma livre, sem ter a obrigação de ser útil. O nada como um instrumento que liberta para criar a verdadeira poesia.
BARROS, Manuel. Livro sobre nada. Rio de Janeiro: Editora Record, 2002, p.67.
Maristela Losekann
Um comentário:
Bastante pertinente a discussão apresentada sobre o livro selecionado de Manoel de Barros. As principais características da obra foram destacadas.
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