terça-feira, 7 de outubro de 2008

Kami Quase


Andar e pensar um pouco,
que só sei pensar andando.
Três passos, e minhas pernas
já estão pensando.

Aonde vão dar estes passos?
Acima, abaixo?
Além? Ou acaso?
se desfazem ao mínimo vento
sem deixar nenhum traço?


Operação de Vista

De uma noite, vim.
Para uma noite, vamos,
uma rosa de Guimarães
nos ramos de Graciliano.

Finnegans Wake à direita,
un coup des dés à esquerda,
que coisa pode ser feita
que não seja pura perda?


saber é pouco
como é que a água do mar
entra dentro do coco?

(Poemas de Paulo Leminski retirados do livro La Vie en Close)

Fica claro que, nos poemas acima, a idéia é persistente e sempre acompanha o homem na multidão. Homem que apreende as sutilezas e as transforma em matéria e onde qualquer esforço intelectual pode significar muito ou significar quase nada.
O eu-lírico compreende sua insignificância e sabe que o destino de todos é o mesmo – vir do nada e voltar ao nada. Vê-se enredado por influências e pela impotência de criar uma grande obra.
Pode-se, ainda, produzir algo inovador?
Somente uma volta ao passado justificaria o fazer poético apontando novas direções, além de legitimar a condição do eu-lírico e do próprio poeta como “homem do povo”. O estado-poético independe de teorizações. Ele está presente nos acontecimentos mais triviais que transformam o poema.
Um turbilhão de pensamentos, de passos e de pessoas. Frágil e precária como a vida moderna – assim é a poesia do GRANDE Leminski.


Roberta Triaca

Um comentário:

Unknown disse...

A análise apresentada é concisa e dá conta de algumas das principais características da produção de Leminski.