domingo, 7 de setembro de 2008

O que mais se pode falar sobre arte e poesia?

Definir poesia não é uma tarefa simples, requer infindáveis leituras, técnica e uma grande capacidade de abstração por parte do leitor. Entretanto, minha filha de quatro anos identifica as poesias que leio para ela dizendo: "tem rima". Poderia ser simples assim, uma definição de dicionário ou uma nota de rodapé: simples, prática e exata .
Mas, com certeza, não haveria toda a magia e o encantamento produzido pela forma poética e sua essência se tal fato fosse verdadeiro. É a complexidade da poesia em sua totalidade que a torna embriagante e suscita no meio literário muitas discussões interessantes que eu, estudante da Letras, estou apenas iniciando.
A poesia, tanto quanto a arte, transforma a percepção do artista, única e atemporal, em muitas outras que também são únicas e atemporais, servindo-se, para isso, da imaginação e do senso estético dos observadores/leitores, os chamados consumidores do produto artístico. Criar um mundo imaginário, nem melhor nem pior do que o real, a partir de uma reinvenção desse mundo é o resultado do trabalho do poeta, um "fingidor", que finge e finge muitíssimo bem. Fernando Pessoa ressalta em sua poesia a existência desse talento único no poeta, que talvez seja um instrumento utilizado pelo artista como parte de um processo de convencimento que percorrre todo o fazer poético .
A leitura de poesia é, antes de mais nada, um desafio. Os nossos ouvidos, desacostumados com representações do belo e do inacabado, demoram ou não conseguem reter todas as sensações e os jogos mentais que um poema nos invoca e ficamos inicialmente perplexos, com a sensação, ou melhor, com a certeza de que não entendemos nada do que foi dito. Na leitura dos devaneios dos poetas materializados em verso, pensamos e agimos racionalmente, quando na verdade, devíamos nos livrar desses rigorismos e nos tornarmos essencialmente seres dotados de sentimentos. Somos capazes, poetas ou não, de transformar em poesia atos e falas do dia-a-dia sem que ao menos sejamos iniciantes na arte de poetar. Devemos, para aproveitar a poesia e as suas possibilidades de renovação/revelação, utilizar a nossa sabedoria para buscar no estranhamento produzido pela arte e suas formas uma nova forma de ver o mundo: igual mas diferente de tudo que já vimos até então.
Maristela Losekann

Um comentário:

Unknown disse...

Indicas a percepção do artista como única e atemporal. Concordo que ela seja única, pois é a perspectiva do artista que o distingue dos demais, porém, tenho minhas dúvidas para com o termo "atemporal". Não será a visão do indivíduo influenciada pela época em que ele vive, e daí os diversos olhares existentes sobre algumas imagens e temas ao longo da história da humanidade?