terça-feira, 9 de setembro de 2008

A arte e o novo

Ferreira Gullar não é contrário às experiências novas em arte, o que ele defende é que as renovações que a arte apresenta, independe dos movimentos de vanguarda. O novo para ele, seja tematicamente, seja estilisticamente deve ser uma questão intrínseca ao ato da criação artística. É nesse ponto que o artista e o artesão se distinguem; enquanto este, se valendo de seus recursos, se restringe a reproduzir o mesmo objeto, aquele está constantemente impelido a fazer uma coisa nova. Este ímpeto de criar varia de artista para artista. Ele pode reinventar constantemente a própria pintura como no caso de Picasso, ou explorar uma mesma temática e um mesmo estilo, como no caso de Morandi. O que Gullar pretende aqui é demonstrar que o novo não precisa ser uma ruptura, que abale estruturas, mas sim uma exploração e um aprofundamento temático e estilístico que produzam um resultado sutil. Para ele a arte independe do determinismo de um suposto evolucionismo artístico, ela estará viva sempre que haja artistas talentosos para realizá-la.

Arte efêmera

Para Ferreira Gullar a arte pode até refletir o espírito de uma época, mas nem sempre adequando-se a ele, uma vez que uma das formas de refleti-lo é contestá-lo. Segundo ele arte tem sido através dos séculos a expressão do que mais permanente o homem criou e “constitui a nossa memória e nossa herança, pois através dela as civilizações nos ensinam e nos constituem como seres humanos”. Se ela for valorizada como efêmera será vista como mercadoria e isso remete ao consumo capitalista. Para ele a arte deve marcar e o artista precisa resistir ao oportunismo do momento.

A arte como um não-saber

Para o autor a arte é um fim em si mesma, por isso é sempre necessário que o outro infira um valor sobre ela. A arte é uma transfiguração da realidade que passou pela subjetividade do artista. Assim, segundo o autor, uma paisagem não pertence mais ao reino da natureza, mas ao reino da pintura a partir do momento em que ela se transforma na obra do pintor e este deseja tocar o espectador pelas sensações de cor, de volume e não pela verossimilhança. Conforme a rejeição de Cézanne ao “acabado”, a obra é considerada como uma experiência permanentemente aberta, uma rejeição às normas e soluções preestabelecidas, mantendo desse modo o frescor e a surpresa da criação artística. Para conseguir esse efeito era necessário que o pintor “não soubesse pintar”.

A arte como produção

Segundo Ferreira Gullar ver a arte como produção é vê-la como mercadoria e os artistas não estão preocupados em reter o monopólio do mercado, mas em produzir algo novo ou que faça a diferença. Para ele a contradição entre arte e sociedade capitalista da produção industrial está na diferença que existe entre a fabricação massiva de objetos iguais e a produção de objetos únicos, diferenciados, mas, o que move o artista é a possibilidade de deixar a sua marca individual.

Marivone Cechett Sirtoli

Um comentário:

Unknown disse...

Sem ser prolixa, apreendeste os principais aspectos discutidos por Ferreira Gullar nos ensaios discutidos